A indústria da construção desempenha um papel importante na economia global, tendo um impacto direto no PIB e no desenvolvimento de países mundo afora. Embora seja protagonista do cenário econômico mundial, o setor ainda patina quando o assunto é produtividade, tendo o desperdício de tempo e recursos como uma das principais ameaças ao seu crescimento.
A baixa produtividade chega a ser um problema crônico do setor. Um relatório do Construction Industry Institute comparou o tempo perdido e o tempo produtivo nas indústrias de construção (43%) e manufatura (88%), revelando que 57% do tempo no setor de construção é desperdiçado. Um outro estudo da Michigan State University estima que entre 40% e 50% de todos os projetos de construção acabam atrasando.
Uma das principais despesas do setor vem da forma como os projetos são geridos – que pode ganhar, e muito, em eficiência. Processos manuais, pouco investimento em tecnologia e treinamento e dificuldade de inovar são alguns dos motivos pelos quais a construção tem hoje um dos mais baixos índices de produtividade em comparação a outros setores.
Apesar de caminharmos a passos lentos rumo a uma revolução que transforme de maneira avassaladora esse cenário, temos observado uma pressão de stakeholders por processos mais enxutos, que possibilitem produzir mais com menos. Com o objetivo de responder a essa demanda do mercado, empresas no Brasil e no mundo estão adotando processos e ferramentas de lean construction para otimizar resultados, reduzir custos e melhorar a performance de suas equipes.
Aumentar a produtividade da entrega dos projetos de capital e infraestrutura é fundamental para os setores de capital intensivo. Organizações que incorporam os princípios de lean construction acabam impulsionando a criação de valor em todo o ciclo de vida dos investimentos e o ganho de escala, alcançando resultados que as tornam ainda mais competitivas. Na Deloitte, por exemplo, a equipe de Capital Projects & Asset Transformation vem atuando na implementação de projetos lean no setor de construção e ajudou empresas a aumentarem sua produtividade de 20% a 40%, enquanto reduziram seus prazos em 15%.
Os princípios do lean construction têm suas origens nos processos desenvolvidos por Taiichi Ohno, que transformaram a Toyota na metade do século passado. O conceito gira em torno de sistemas de produção que reduzem o desperdício de materiais, tempo e esforço com o objetivo de aumentar a produtividade e criar o máximo valor possível. A prática ainda oferece alternativas que contribuem para que as empresas tenham êxito apesar de condições econômicas adversas.
Soluções lean intensificam as práticas de gestão de projeto ao integrarem metodologias de produção eficazes. A implementação dessas técnicas ocorre de maneira coordenada entre empresa e participantes do projeto para aumentar a visibilidade do trabalho executado, reforçando a responsabilidade das partes envolvidas e ressaltando a importância do engajamento e da colaboração ao longo de toda a cadeia produtiva.
Segundo um estudo da McGraw Hill Construction, construtoras que já implementaram práticas lean afirmam que o principal retorno que elas têm é a capacidade de ter sucesso em um mercado competitivo. Isso se dá, segundo a pesquisa, por uma combinação de fatores como maior confiabilidade do resultado e margem de lucro, uma construção de maior qualidade, maior satisfação do cliente e redução de custos e prazos. Os benefícios trazidos pelo
lean construction, no entanto, transpõem os resultados econômicos, aumentando também a segurança em canteiros de obras e melhorando a qualidade do produto final.
Uma das ferramentas características de processos lean, que auxiliam nesse sentido, são os softwares de modelagem de informações de construção (BIM, na sigla em inglês). Essas soluções podem ser utilizadas para, por exemplo, criar um modelo em 3D delineando a programação semanal de um projeto, assim como os materiais que devem ser utilizados, dando um modelo visual de como a construção deve ficar naquela semana.
Um recurso como esse otimiza a performance da equipe, diminuindo o desperdício de tempo e materiais, além de melhorar o resultado final do trabalho. Empresas que usam a programação visual orientando equipes de campo relatam um aumento de 400% na média de peças montadas por
semana, além de ter mais de 90% das restrições eliminadas dentro do prazo.
Apesar dos benefícios claros da implementação de processos lean no setor de construção, ainda há certa resistência por parte de algumas organizações operando na área. Uma das principais barreiras no Brasil para a adoção desses processos é a maneira com a qual empresas fazem seus planejamentos de obra. Para uma mudança de paradigma do setor acontecer é preciso sair do planejamento tradicional feito pelas organizações e partir para um planejamento que seja focado no valor. Outro impedimento é a cultura nesses ambientes de trabalho. A relação entre contratantes e contratados nunca foi vista como parceria e isso precisa mudar. Todo projeto que é colaborativo acaba tendo ganhos maiores no médio e longo prazo.
Nos últimos anos, porém, temos observado um movimento não só de empresas contratadas, mas também de contratantes que vêm adotando ferramentas lean em seus processos. Cada vez mais, líderes de negócios percebem que a hierarquia de comando e controle, atualmente em vigor, precisa ser redefinida, movendo processos tradicionais para uma estrutura operacional lean. O alto desperdício no setor é incontestável e líderes de negócios hoje veem que não há outro caminho para transformar o setor e alavancar sua produtividade se não houver uma revolução em como os projetos são pensados e geridos, criando assim processos mais enxutos que adicionem valor à cadeia de produção.
Fonte: https://blogdaengenharia.com/